Trincas acomodadas ou desculpa esfarrapada?
- Rafael Martins
- 4 de fev. de 2020
- 2 min de leitura

Talvez uma das respostas mais previsíveis, em se tratando de manifestações patológicas de edifícios, seja “Essas trincas aí são da acomodação do prédio”. Isso soa tão comum, e muitas vezes não tão convincente, quanto o diagnóstico do Clínico Geral: “É uma virose, mãe”.
Mas qual o limiar entre trincas acomodadas e uma desculpa esfarrapada?
Primeiro, nenhuma análise técnica de trinca prescinde de monitoramento. A lógica por detrás é simples. Trincas podem ser: i) sazonais – aquelas que só aparecem numa época do ano e depois “fecham”; ii) ativas – quando revelam uma abertura da largura com o passar do tempo; iii) ativas progressivas – quando esse ritmo de abertura é acelerado no tempo, e; iv) passivas – quando já não há variação na abertura da fissura. Houve estabilização.
As trincas decorrentes de acomodação seriam aquelas enquadradas como passivas. Trata-se de algo esperado a nível de projeto e de execução e que não traz risco, desde que atendidos determinados critérios normativos, muitos dos quais são prescritos com fins de durabilidade.
O caso mais grave ficaria com as trincas ativas progressivas. Nesse caso, você teria um problema cada vez mais preocupante com o passar do tempo. Os outros dois tipos de trincas, via de regra, figurariam numa escala intermediária de dor de cabeça.
O que importa aqui é saber que nenhum diagnóstico numa das quatro categorias trazidas acima é feito com uma única visita. Monitorar significa retornar e avaliar por meio de novas medições in loco, as quais ainda trarão dados sobre umidade, temperatura, além de checar condições de contorno do projeto e da execução. Sem isso, tem-se apenas uma aposta. Aposta na sua inocência...
E como é frequente inspecionar edificações que apresentam diversas trincas tratadas como se fossem passivas, mas que continuaram a dar ar da graça por se mostrarem ativas ou mesmo ativas progressivas.
Peça um relatório de monitoramento das trincas da próxima vez que ouvir o termo “acomodação” e se deleite com o ar de espanto vindo do outro lado.
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